Setembro Amarelo: os efeitos da pandemia na saúde mental

Campanha anual de prevenção levanta neste ano o tema ‘agir salva vidas’ e traz uma preocupação específica com o momento que o país atravessa

De acordo com o relatório Suicide Worldwide, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no mês de junho, aproximadamente 13 mil pessoas morreram por suicídio, em 2019, no Brasil. A maioria dos suicídios está relacionada a distúrbios mentais, como depressão e transtorno bipolar. A campanha anual de prevenção, chamada de Setembro Amarelo, levanta neste ano o tema “agir salva vidas” e traz uma preocupação específica com o momento que o país atravessa em razão da pandemia.

Conforme um estudo da Universidade de Ohio, em parceria com universidades de 11 países, a Covid-19 causa mais impactos na saúde de brasileiros do que de pessoas de outros países. Isso porque, o aumento de doenças psicológicas no país está ligado a demora em controlar o vírus, que trouxe sentimentos de solidão, medo, luto, insuficiência e ainda, a própria insegurança no aspecto financeiro. Esses sentimentos funcionam como gatilhos para pessoas com doenças psicológicas já existentes ou não.

Especialistas da área tentam responder questões sobre os possíveis impactos da pandemia no aumento de tentativas e consumações de suicídios. Em alguns estados, houve aumento de 111%, como em Rondônia. No entanto, dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, revelam que a variação do número de suicídios no Brasil em 2020 foi de apenas 0,4% em relação a 2019, e que, portanto, os índices na pandemia são considerados estáveis, mas que a tendência no país é de alta.

A OMS relata que o Brasil já é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalentes a 5,8% da população, atrás dos Estados Unidos, com 5,9% e, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 aponta que 10,2% (16,3 milhões) das pessoas com mais de 18 anos sofrem da doença. Quando o levantamento anterior foi realizado, eram 7,6% (11,2 milhões) — um adicional de 5,1 milhões de casos no período. Também foi revelado que 79% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda.

Na Câmara dos Deputados, faço parte da Frente Parlamentar de Combate ao Suicídio e Automutilação, que realiza ações para a redução do suicídio no Brasil, por meio de campanhas, elaboração de políticas públicas e palestras informativas. A ideia é envolver toda sociedade e, sobretudo, capacitar cidadãos a auxiliar pessoas em profundo sofrimento. A Frente reúne mais de 200 deputados de todos os partidos e de todos os estados e nós, do Republicanos, também defendemos o direito à vida porque ela deve ser integralmente preservada. Apoio ainda o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, que ampara mulheres que sofrem violência doméstica e que estão suscetíveis e vulneráveis no aspecto emocional.

Segundo psicólogos, o pensamento de que a solução dos problemas é dar um fim a própria vida é chamado de ideação suicida e quando o indivíduo chega a esse estágio, ele apresenta alguns sinais verbais e comportamentais que podem ser usados como alerta. Responsável pela regulação e fiscalização da operação dos planos de saúde privados, a ANS alerta que pequenas mudanças de comportamento podem ser indícios de sintomas de um quadro mais grave. O diagnóstico precoce, o tratamento e o acompanhamento são considerados essenciais.

Fique atento em seu meio, entre os familiares, amigos, locais de trabalho e tente ajudar. Entre alguns comportamentos diretos e que servem de alerta estão as mudanças repentinas de comportamento, ameaça de suicídio ou expressão/verbalização de intenso desejo de morrer, sinais de depressão, oscilação de humor, pessimismo, estresse acentuado, problemas associados ao sono (excessivo ou insônia), isolamento, e outros. Já os comportamentais indiretos se apresentam com atitudes como desfazer-se de objetos importantes, conclusão de assuntos pendentes, fazer um testamento e ainda, nos comportamentos verbais estão as frases “gostaria de estar morto”, “se isso acontecer novamente, prefiro morrer”, “se ele não me aceitar de volta, eu me matarei”, “quero sumir. Não aguento mais! Só morrendo mesmo para aguentar”.

E identificando casos como estes, como podemos auxiliar? De acordo com especialistas da área da saúde, precisamos escutar, deixar a pessoa falar com calma, sem julgar. Se interessar pelo impacto que está acontecendo com essa pessoa e ter empatia. Isso vai fazer ela gastar os sentimentos. Depois disso, levá-la até um profissional.  

O Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, é um canal permanente de apoio. Em diversidades cidades, há também um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que oferece auxílio em horários comerciais. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo telefone 192, ou o Corpo de Bombeiros, pelo 193, devem ser acionados quando ocorrem casos de tentativas de suicídio. A Organização Mundial da Saúde divulgou em junho deste ano dados sobre suicídio e pediu esforço dos países para diminuir as taxas até 2030.

A vida é a maior riqueza que temos. Cuide da sua e cuide do outro!

*Maria Rosas é deputada federal pelo Republicanos SP e secretária estadual do Movimento Mulheres Republicanas