Alfabetização – os impactos da pandemia

Levantamento realizado com 250 mil alunos do 2ª ano do ensino fundamental revelou que 74% deles foram consideradas não alfabetizados

O ensino remoto tem sido um grande aliado no processo educacional durante a pandemia, no entanto, manter os níveis de aprendizado na rede pública por meio da tecnologia é uma tarefa desafiadora – especialmente para as crianças que estão sendo alfabetizadas.  Um levantamento realizado pela Fundação Lemann, Instituto Natura e a ONG Bem Comum com 250 mil alunos do 2ª ano do ensino fundamental, ou seja, com crianças com sete anos de idade e espalhadas por dez estados brasileiros, revelou que 74% foram consideradas não alfabetizadas, conseguindo ler no máximo nove palavras por minuto e, deste universo, apenas 7% eram leitores fluentes. Esse resultado é claramente o efeito do fechamento das escolas sem que fossem dados recursos para substituir as aulas de maneira adequada para todos.

Quando falo em alfabetização, refiro-me a todas as etapas de desenvolvimento de leitura e escrita, que começam na educação infantil. Nessa fase, é primordial promover experiências com a linguagem oral, que é o primeiro passo para a construção da concepção de língua escrita – com a mediação do educador, o aluno é inserido no mundo da leitura (através da literatura, da contação de histórias, de cantigas e brincadeiras) e desenvolve habilidades iniciais da linguagem escrita (em desenhos e rabiscos e, muitas vezes, usando letras e sílabas). A partir dos seis anos de idade, quando geralmente entram no ensino fundamental, as crianças passam à alfabetização formal, com práticas pedagógicas focadas na aprendizagem da leitura e da escrita.

Em outras palavras: a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental são etapas de um mesmo processo (alfabetização); em ambas, as crianças precisam de experiências concretas, interações e mediações constantes para aprender. Com poucas interações entre educadores e alunos (e dos alunos com os colegas) e poucas situações concretas de aprendizagem, inevitavelmente houve uma defasagem nessas etapas do processo de alfabetização – além do desgaste físico e emocional gerado em uma criança que, de repente, tem que aprender como se adulta fosse.

Atualmente, o Brasil soma 11 milhões de pessoas analfabetas. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação, o Brasil precisa zerar a taxa de analfabetismo até 2024. Essa meta será difícil de ser alcançada diante de tantos desafios e dificuldades.

A volta das atividades escolares presenciais deve reparar essa perda que tiveram as crianças em processo de alfabetização. Isso será essencial para recuperar o vínculo das crianças com a aprendizagem e reconstruir relações sociais de qualidade com professores. Como professora e membro da Comissão de Educação e da Primeira Infância, considero também que em 2020 ficou mais evidente a importância da parceria entre família e escola. Por isso, precisamos trabalhar juntos para atingir um objetivo comum: otimizar o ensino e evitar que qualquer aluno fique para trás. É fundamental que essa ponte permaneça cada vez mais forte, pois a boa comunicação será o diferencial no acolhimento e readaptação. A educação básica é um direito da criança, por isso deve e precisa ser priorizada.

*Maria Rosas é deputada federal pelo Republicanos SP e secretária estadual do movimento Mulheres Republicanas