Exercitando a empatia

Nesse período turbulento, pudemos ver ações excelentes vindas de diversos lugares e pessoas, mas também soubemos e presenciamos situações vergonhosas


A pandemia da Covid-19 trouxe muito sofrimento para milhares de famílias do mundo todo, mas também despertou uma onda de solidariedade nunca vista antes. Empresários e trabalhadores de diversos setores doaram dinheiro, equipamentos e produtos para ajudar no combate ao novo coronavírus. No Estado de São Paulo, o Comitê Empresarial Solidário, composto por 452 empresas, ultrapassou, em 10/08, a marca de R$ 1 bilhão em doações para o combate ao vírus. Pessoas comuns também contribuíram com ações sociais, ajudaram trabalhadores autônomos, continuaram pagando os salários de seus empregados domésticos mesmo sem requisitar o trabalho deles ou ajudaram idosos em suas rotinas para que eles pudessem se manter em quarentena.
Temos ouvido falar muito em empatia nos últimos tempos, mas afinal, o que é empatia? Empatia é a habilidade de imaginar-se no lugar do outro, algo fundamental para estabelecer boas relações. Mas a empatia não é uma característica de um seleto grupo de pessoas, é possível também exercitá-la. Nesse período turbulento, pudemos ver ações excelentes vindas de diversos lugares e pessoas, mas também soubemos e presenciamos situações vergonhosas, como a violência com profissionais da saúde em Brasília, a “carteirada” de um magistrado no litoral paulista ou a falta de respeito com autoridades que cobram o uso da máscara. Uma pesquisa divulgada em 2016, mas que ganhou visibilidade nos últimos dias, mostra que em um comparativo entre 63 países, o Brasil está em 51º lugar no ranking de empatia; a pesquisa foi feita pela Universidade Estadual de Michigan, nos EUA. O resultado da pesquisa parece destoar da ideia de que somos um povo hospitaleiro e empático.
Mas como explicar essa dicotomia? Como um povo tão simpático e caloroso é também pouco empático? Eu, sinceramente acredito que o povo brasileiro, em sua maioria, ainda é muito hospitaleiro e empático, mas não deixa de ser um bom momento de avaliarmos e exercitarmos a nossa empatia. Durante esse período, muitas pessoas foram relutantes em usar a máscara, em evitar aglomerações ou em preservar pessoas do grupo de risco, alegando “frescura” ou “exagero”, mas esses cuidados não objetivam apenas o cuidado próprio, mas o cuidado com o próximo, já que o mundo conhece ainda muito pouco sobre o vírus.
Tivemos que nos acostumar com novos hábitos nesse momento. O uso da máscara, por exemplo, sempre nos causou estranheza; por aqui nunca foi comum o uso desse equipamento de proteção individual. Esse é um novo hábito para boa parte das nações ocidentais, mas que já era rotina em países asiáticos, por lá é comum as pessoas utilizarem máscaras de proteção quando estão doentes; o objetivo é justamente não infectar o outro. Vários especialistas dizem que é exatamente o uso generalizado da máscara entre os japoneses uma das razões por trás da baixa taxa de infecções e mortes por covid-19 no país. Na verdade, me pergunto se as organizações de saúde e os governos mundiais não demoraram muito para recomendar o uso de máscaras em massa, já que o coronavírus é uma doença transmitida pelo contato com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse e catarro, assim uma simples máscara poderia diminuir o contágio e a transmissão da doença entre pessoas sintomáticas e assintomáticas.
Espero sinceramente que possamos sair melhores dessa pandemia, que sejamos uma sociedade mais empática e solidária.
 
*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo Republicanos de São Paulo e 1º vice-presidente da Alesp.