Quando falamos em modificar “alunos” por “alunes”, por exemplo, temos que ser conscientes de que não estamos mudando uma palavra isolada
Você sabe o que é linguagem neutra? É um dialeto com seus próprios códigos. Tem como objetivo adaptar o português a fim de que as pessoas não binárias (que não se identificam nem como homem ou como mulher) ou intersexo se sintam representadas. Assim, é feita a substituição dos artigos feminino e masculino por um “x”, “e” ou até pela “@” em alguns casos.
Neste contexto, “amigo” ou “amiga” viram “amigue” ou “amigx”. As palavras “todos” ou “todas” são trocadas por “todes”, “todxs” ou “tod@s”. Os defensores adotam ainda, o pronome “elu” para se referir a qualquer pessoa. Mas a mudança, como é popular principalmente na internet, ainda não tem um modelo definido.
De acordo com a norma padrão da língua portuguesa, o artigo masculino cumpre papel de pronome neutro. Por isso, vestibulares ou concursos públicos que exigem o uso da norma culta não permite o uso da linguagem neutra.
Acho legítimo que as pessoas queiram se sentir representadas, mas como professora de alfabetização defendo que não podemos sobrepor questões ideológicas ao padrão culto da língua portuguesa. Propor mudanças a um idioma como o português implica vários desdobramentos que precisamos levar em consideração.
Quando falamos em modificar “alunos” por “alunes”, por exemplo, temos que ser conscientes de que não estamos mudando uma palavra isolada: cada alteração reflete no conjunto de todas as frases nas quais essa palavra for inserida, já que nosso idioma exige concordância de gênero gramatical. Isso significa que uma frase como “todos os alunos são bem-vindos” ficaria “todes es alunes são bem-vindes”. Estamos falando, portanto, de nova fonologia, morfologia e sintaxe – é uma mudança total da língua.
Existem outras formas de praticar uma comunicação mais respeitável, começando por não utilizar expressões consideradas preconceituosas, racistas ou capacitistas: “denegrir”, fazer algo “nas coxas”, “a coisa tá preta”, entre outras que temos incorporadas ao nosso dia a dia. Da mesma forma, expressões como “aleijado” ou “inválido”, que são ofensivas às pessoas com deficiência.
A linguagem neutra não é inclusiva, ela só cria segregação e ainda tira das pessoas o direito ao aprendizado. Além disso, a nova forma de linguagem dificulta a leitura para pessoas cegas, que acessam o conteúdo dos textos por meio de softwares de leitura automatizada.
*Maria Rosas é deputada federal pelo Republicanos SP e secretária estadual do movimento Mulheres Republicanas