Opinião | 500 anos da Reforma Protestante

Gilmaci Santos (1)

O dia 31 de outubro de 1517 representa um grande marco para os evangélicos de todo o mundo, foi nessa data que o monge agostiniano alemão, Martinho Lutero (1483-1546), teria afixado suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. As teses em questão discordavam de pensamentos defendidos pela Igreja Católica Romana no início do século XVI. Um dos discursos oficiais da época era de que o perdão de Deus poderia ser conquistado com a compra de indulgências – a compra de um perdão que assegurava ao comprador a salvação ou liberava a alma de outro do Purgatório.

Em sua 27ª tese, Lutero escreveu sobre a compra de indulgências: “Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu]”. Em 1517, o Papa Leão X ofereceu indulgências para aqueles que dessem esmolas para construir a Basílica de São Pedro, em Roma. As 95 teses de Lutero desafiaram os ensinamentos da igreja da época, questionando questões como a natureza da penitência, a autoridade do Papa e a utilidade das indulgências. Lutero queria mudanças e ainda hoje é lembrado como aquele que buscou resgatar a pregação do verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, baseado apenas na leitura da bíblia. Mas a Reforma Protestante não foi apenas um marco religioso, foi também um movimento que mudou os cenários político, econômico e cultural naquele período.

Na época poucos eram alfabetizados, a educação era restrita apenas aos mais nobres que podiam pagar por ela, a religião ditava os rumos da sociedade e a Bíblia era impressa apenas em latim. Essa junção de fatores tornou ainda mais comum os excessos praticados por religiosos da época, mas, em 1534, foi impressa a primeira tradução em alemão da Bíblia, produzida por Lutero por meio de uma tecnologia de impressão muito moderna na época: a “prensa com tipos móveis”. A partir deste momento todos puderam ter acesso à Bíblia e à compreensão da palavra de Deus sem intermediários e sem interpretações viciadas por doutrinas religiosas, mas dirigida apenas pelo inspirador da Bíblia: Deus.

As reflexões de Lutero sobre as doutrinas não-bíblicas começaram anos antes das famosas teses, quando o monge foi tocado pela afirmação do apóstolo Paulo em Romanos 1:17: “Mas o justo viverá pela fé”. Essa fé faz parte do que hoje é chamado de os “Cinco Solas”, que são cinco frases que resumem os princípios fundamentais da Reforma Protestante. As frases em latim são iniciadas pela palavra “sola”, que em português significa “somente”, em resumo, os “Cinco Solas” são: Sola Fide – Somente a Fé. O homem é justificado exclusivamente pela fé; Sola Scriptura – Somente a Escritura. A Escritura é suficiente e é por ela que devemos nortear a vida cristã; Solus Christus – Somente Cristo. A mediação entre o homem e Deus é feita somente por Jesus.  Sola Gratia – Somente a Graça. A graça de Deus para com nós é totalmente gratuita. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8); Soli Deo Gloria – Somente a Deus a Glória. O homem foi criado para a glória de Deus e tudo o que ele fizer deve ser destinado a glorificar a Deus.

A Reforma Protestante é um marco histórico e religioso, mas é importante recordar os princípios que motivaram a reforma. Que nunca esqueçamos da importância de vivermos uma fé pura, baseada apenas na palavra de Deus. Que nós enquanto seguidores de Cristo resgatemos diariamente aquilo que moveu os nossos companheiros de fé há 500 anos.

 

*Gilmaci Santos é deputado estadual (PRB) e membro efetivo da

Comissão de Constituição, Justiça e Redação e da Comissão de Educação e Cultura.