Pesquisa não reflete apenas a falta de escolaridade da população, mas também a carência social e econômica
No último dia 8 de setembro, celebramos o Dia Mundial da Alfabetização. Hoje, no Brasil, são 11 milhões de analfabetos. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples.
Essa pesquisa não reflete apenas a falta de escolaridade da população, mas também a carência social e econômica. Uma família preocupada em suprir o mínimo de suas necessidades básicas, como a alimentação não irá se desenvolver em um processo de escolarização. Por isso, a escola pública, como parte do Estado, tem responsabilidades e deve cuidar do todo.
Com a pandemia, as merendas foram interrompidas, então muitos centros de ensino se mobilizaram na entrega de cestas básicas para os estudantes. Nesse contexto, as desigualdades educacionais também se acentuam, já que a maior parte dos alunos que não tem acesso à internet não participaram das aulas online. Em alguns casos, para amenizar o problema, professores visitaram os estudantes pessoalmente para levar as atividades e verificar o progresso de cada um.
Mas o que se observou foi que, alunos que moram em casas com pouca ou nenhuma leitura, às vezes sem mães e pais alfabetizados, acabam tendo um conhecimento aquém do esperado para crianças com 8 ou 9 anos de idade. No isolamento social os professores tiveram de repensar o conteúdo de alfabetização, incluindo as famílias, pois são elas as mediadoras do que é ensinado. Então quando os pais não têm acesso à educação, quem media as dúvidas e a oralidade da criança?
Estudo encomendado ao Datafolha pela Fundação Lemann, o Itaú Social e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado em junho deste ano, mostra que mais da metade (51%) das crianças em processo de alfabetização na rede pública brasileira ficaram no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprenderam nada de novo durante a pandemia.
Não se pode alfabetizar sem olhar para o bairro e o ritmo desse aluno, sem entender que é um sujeito que aprende quando está em casa. Não podemos negar os aspectos culturais dos pais, da cidade. Não podemos negar os aspectos estruturais, a alimentação, a saúde. A Educação envolve absolutamente tudo.
É necessário ter políticas públicas nesse sentido, porque se não tivermos atenção para as necessidades do estudante e sua família e ainda, nas escolas um olhar focado em relação ao professor alfabetizador, a formação continuada, condições de trabalho, a conscientização das famílias para que esse aluno possa aprender, os prejuízos serão imensuráveis nos anos seguintes na educação fundamental, no ensino médio e até mesmo na educação superior, em que vamos formar os famosos analfabetos funcionais.
Na Câmara dos Deputados, sou presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Educação Básica e Alfabetização no Brasil e terceira vice-presidente da Comissão de Educação. Continuo trabalhando por melhores condições no ensino, defendendo especialmente a primeira infância, período fundamental para dar suporte aos estudantes na vida adulta.
Nesses quase três anos de mandato apresentei inúmeros projetos que visam à garantia dos direitos da criança e do adolescente. Acredito que a experiência do letramento é o caminho para o desenvolvimento em muitos outros aspectos, promovendo interação social para viver uma infância com plenitude e a própria realização pessoal. Sigo firme acreditando que só um ensino de qualidade transforma o país.
*Maria Rosas é deputada federal pelo Republicanos SP e secretária estadual do movimento Mulheres Republicanas