Resgate da Dignidade

Vinicius_internaSão Paulo é o Estado mais rico da Federação, mas, como as demais regiões brasileiras, a desigualdade social é evidente. Bolsões de miséria estão espalhados por todos os cantos, da Alta Paulista ao Vale do Ribeira, passando pela Capital chegando ao Vale do Paraíba e seguindo até ao extremo de Franca. As dificuldades econômicas e sociais não são exclusivas de nenhuma área.
Acompanho de perto a realidade de cada região. Viajei por todos os cantos do Estado, pois acredito, que somente conhecendo de fato a necessidade e peculiaridade de cada local, você melhor planeja e atinge resultados mais assertivos. Sem a famosa tomada de decisões vinda de cima para baixo, marca de governos passados autoritários. Por todas as cidades, tenho me reunido com gestores municipais, presidentes de entidades sociais e técnicos de nossa Secretaria, com o objetivo singular, simplesmente ouvir os que têm experiência de campo.
Tenho me deparado com excelentes trabalhos realizados por entidades, que apesar das dificuldades, representam a única mão amiga para aqueles mais necessitados que podem ser desde uma pessoa em situação de extrema pobreza, afastado do convívio familiar por causa da violência ou abandonado pela família por problemas físicos, de idade ou até mentais. Um trabalho de excelência, que os governos são incapazes de realizar.
Mesmo assim, o orçamento para o desenvolvimento social ainda é colocado em último plano. Visitei casas de idosos, residências inclusivas de deficientes e “abrigos” para menores, não há como não se comover e não se sensibilizar com causa. Somos todos humanos e as entidades devem ser vistas como grandes parceiras para a ressocialização e para o resgate da dignidade.
Nestas minhas caminhadas, me deparei com um problema que mostra de fato a falta de sensibilidade e de conhecimento de pessoas que não saem de seus escritórios e não ouvem os seus próprios funcionários ou os agentes sociais. Uma tomada de decisão prejudicou milhares de famílias que usam os serviços da APAE. Os alunos com dificuldades intelectuais com mais de 30 anos foram descredenciados da Secretaria Estadual de Educação e transferidos para a Secretaria de Desenvolvimento Social.
Não quero aqui entrar nos méritos pedagógicos da mudança, mas, com esta alteração de Pasta, a Associação passou a receber pelo convênio público cerca de três vezes menos. Saíram de R$ 260 mês por aluno e chegaram aos ínfimos R$ 63 mês. É impossível entender e absorver uma decisão desta?
Os usuários acima de 30 anos continuam no local usando os mesmo serviços e, por causa de seus problemas, dificilmente deixarão as APAEs algum dia. Ali eles recebem assistência social, ambulatorial e, o mais importante, atenção e carinho de pessoas preparadas e altamente capacitadas. Não devemos nunca esquecer das famílias destes alunos que veem na Associação a mão amiga de criar seus filhos com respeito e cidadania.
Assistir não é dar comida na boca das pessoas. Assistir é dar atenção, fazer com que estas pessoas tenham condições de se sentir gente, cidadão, e ter sua dignidade restaurada. Para mim, o objetivo do desenvolvimento social é muito amplo. Precisamos somar forças para erradicar a extrema pobreza e a vulnerabilidade dessa classe de pessoas.
Mas, para isso se faz necessário que os técnicos saiam de suas salas antes de qualquer decisão, conheçam a realidade na ponta e aprendam com aqueles profissionais que sofrem tanto quanto a pessoa carente para colocar em prática um trabalho especial de resgate da dignidade humana.
Nós gestores e os técnicos devemos se ater somente a um objetivo: atender com determinação e perseverança os usuários do sistema de assistência, dar uma vida melhor a quem precisa.
Vinicius Carvalho
Vice-Presidente do PRB São Paulo
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