A Câmara de Guarujá foi palco, ontem (24), de uma atitude solidária há muito não vista na região. Sob os olhos dos demais colegas de plenário, funcionários da Casa e dezenas de munícipes presentes na sessão, o vereador Mauro Teixeira (PRB), raspou a cabeça em apoio a auxiliar de serviços gerais Ana Paula Costa Puosso e em repúdio à falta de atenção do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Desde a última segunda-feira, Ana Paula e o marido vêm protestando na porta do posto do INSS, na Avenida Adhemar de Barros, por ter seu benefício (R$ 1.300,00) suspenso pelo órgão. Ontem, Ana Paula raspou a cabeça no Legislativo e, logo, teve o apoio do republicano que, igualmente, raspou a cabeça em solidariedade à munícipe.
“Sou testemunha que dezenas de pessoas com problemas psiquiátricos e outras enfermidades têm seus pedidos indeferidos pelo INSS. Por isso, em apoio à Ana Paula, que conheci hoje aqui na Câmara, resolvi raspar também a cabeça”, disse o vereador, que espera que o protesto sensibilize o órgão federal a avaliar os casos com mais cuidado e justiça.
Também em solidariedade, o presidente da Câmara Municipal do Guarujá e vereador, Marcelo Squassoni (PRB), disse que irá providenciar os remédios para Ana e dispôr de uma comissão de vereadores para acompanhar o caso da munícipe junto ao INSS.
Confira o vídeo:
A doença de Ana Paula
Ana Paula sofre de uma cardiopatia congênita — doença na qual há anormalidade da estrutura ou função do coração, que está presente no nascimento. Ela e a família — marido, o filho de sete anos e a sogra — sobrevivem porque se alimentam de comida vencida que pegam no lixo de supermercados.
Em entrevista ao jornal Diário do Litoral, Ana Paula revelou seu drama. “Eu tinha uma microempresa que prestava serviços de mão-de-obra na construção civil. Hoje, tenho que apelar para a comida descartada do supermercado. Meu marido não pode trabalhar porque sua mãe, que vive com a gente, teve um acidente vascular cerebral (AVC) e se locomove em uma cadeira de rodas”.
Ana Paula também sofre problemas psicológicos — depressão, bipolaridade e síndrome de pânico — dependendo de remédios controlados com dosagens altas. Para piorar, ela conta que seus medicamentos estão faltando na rede municipal de saúde.
Daniel faz tudo em casa em função da doença de esposa e da mãe. Ele gostaria de trabalhar de madrugada para poder sustentar a família, mas não consegue emprego. “Eu faço qualquer serviço. Se minha esposa estivesse com saúde, ela ficaria com minha mãe, que não consegue ir sequer ao banheiro”, afirma o marido de Ana Paula.
Luiz Carlos de Brito disse que a situação é escandalosa. “Conheço pessoas que não precisariam estar afastadas e estão. Li a reportagem hoje e acredito que ela tem direito ao benefício”.
Osmir Antônio de Ângelo disse que Ana nada mais está fazendo do que buscando seus direitos e a Câmara seria um ambiente propício. “Também acredito que ela deveria acionar o Ministério Público porque, realmente, o INSS é uma vergonha. Minha mãe amputou uma perna e o órgão disse que ela poderia trabalhar”, exemplificou.
O ex-vice-prefeito Gentil Nunes revelou que os vereadores podem se articular e pressionar as autoridades e os órgãos públicos no sentido de dar atenção ao caso. “Aposentados e beneficiários do INSS vivem sendo penalizados. É preciso uma mudança radical nos serviços sociais brasileiros para que, um dia, se faça justiça”.
Texto extraído de Diário do Litoral – Foto: Luiz Torres/DL – Alterado por Danielli Guerson