Num “continuum” histórico no Brasil, a Saúde Pública juntamente com a população tiveram seus maiores ganhos sociais no ano de 1988, com a Constituição Federal e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) com suas diretrizes de “promoção da saúde” e “bem estar social”. Desde então se trava uma batalha diária para que o SUS saia do papel. As 14 categorias profissionais específicas de nível superior em saúde e todas as outras de nível técnico, muitas vezes abnegados, dedicados, idealistas e acima de tudo humanitários carregam nas costas a tarefa e o comprometimento com o atendimento aos (às) mais necessitados (as).
Não é novidade que os maiores entraves para a Saúde Pública são a má gestão e carência de financiamento em alguns setores que assegurem a continuidade dos programas. Porém, se o nó é antigo, por que não houve um encaminhamento? Várias são as respostas que parecem culminar num único ponto: a Saúde Pública nunca foi prioridade nas gestões dos últimos governos.
Diante do clamor popular recente nas manifestações nas ruas por saúde, educação e transporte, uma resposta imediata à sociedade urgiu no meio político. A resposta dada com o nome “Mais Médicos” declarou uma guerra entre o governo federal e associações médicas, que falam unicamente pela classe médica no Brasil, pondo de lados as outras categorias profissionais na saúde. No meio do fogo cruzado dos meandros políticos, retórica eleitoral e do corporativismo escancarado sobraram agressões contra os médicos recém–chegados. Como exemplo do ocorrido no Ceará, os estilhaços recaem diretamente no SUS dependente e na Saúde Pública que preconiza a integralidade do atendimento.
Assistência em Saúde é possível sem médicos, porém indubitavelmente precária. Cidades que não possuem médicos precisam tê-los. A habilidade técnica da formação não entra em cena. A boa vontade e humanismo de um médico dito “mal formado” são maiores e mais necessárias que a prepotência e arrogância daqueles que sequer olham nos olhos da população em seus atendimentos.
Quando as associações de classe reivindicam revalidação de diploma estrangeiro num purismo que não faz sentido para preenchimento das vagas que não interessam aos brasileiros, não se justifica criar um corredor polonês para os interessados. Indo mais além, qual seria o desempenho dos médicos formados no Brasil em provas como as da OAB, ou o próprio “Revalida”? Se considerarmos o último “piloto” sem caráter oficial, quase metade do resultado foi insatisfatório. Claro que desejamos os melhores profissionais para nos atender, mas como seria possível num ambiente sem infra-estrutura para desempenhar a função onde quer seja, desde os bairros mais pobres da cidade mais rica até as comunidades mais carentes no Brasil?
Posições, digamos, até irracionais estão gerando interpretações equivocadas que não reconhecem a história da Saúde Pública no Brasil e tão pouco o trabalho de todos, incluindo muitos profissionais médicos, que lutam por um SUS de verdade na prática. O desinteresse de uma minoria não pode macular a reputação de tanta gente digna que hoje ainda infelizmente insere-se num ambiente onde predominam a corrupção e o sucateamento fruto do descaso de interesses escusos.
Reformar um processo desgovernado a um só tempo perdulário e miserável, requer muito mais do que jogo de cena e um simplesmente “importar médicos” de outros países. Isso é tarefa para republicanos que enxergam um pouco além da miopia das eleições do ano que vem. O PRB, o único partido que é 10 sabe como exercer a liderança política com sabedoria e sem limitações partidárias.
Prof. Dr. Paulo André, sanitarista, coordenador nacional do PRB Saúde