Seis em cada 10 deles tiveram ansiedade e aumentaram o tempo nas redes sociais durante o confinamento
“Tive crises de ansiedade durante a pandemia de coronavírus, principalmente por não saber como seria o amanhã. Ficava triste sem motivo. Tive uma inversão de horários também. Me sentia muito cansado e até dormia durante o dia e ficava acordado de madrugada. Na escola, meu rendimento caiu. Não consegui aprender muita coisa à distância. Pensei muitas vezes em parar de estudar, inclusive parei um curso de idioma que estava fazendo, pois não conseguia me concentrar. Me sentia sobrecarregado. Passei a procrastinar mais. O uso das redes sociais foi a única forma de ver as pessoas e de descontrair também. A pandemia tirou a minha sensação de liberdade. E quando a Covid chegou à minha casa, achei que pudesse ter vindo por mim, apesar de eu me cuidar. Tive muito medo de perder a minha mãe ou de ficar com alguma sequela. ”
Uma das minhas frentes de trabalho como deputado é com os jovens. O relato acima é de um garoto de 17 anos, e define bem o que os mais novos passaram — e ainda estão passando — por causa da pandemia de Covid-19. Estudos apontam que praticamente metade das pessoas entre 14 e 29 anos (que são 50 milhões em nosso País, de acordo com a Pnad 2019) tiveram impactos preocupantes na saúde física e mental por causa da crise sanitária mundial que vivemos.
O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) ouviu 68 mil jovens em todo o Brasil e constatou que seis em cada 10 deles tiveram ansiedade e aumentaram o tempo nas redes sociais durante o confinamento; 51% se sentiram cansados ou exaustos; 40% tiveram insônia ou alteração de peso; e 43% pensaram em desistir dos estudos. Um levantamento do laboratório Pfizer, com 2 mil pessoas na cidade de São Paulo e nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador, indicou irritação em 53% dos jovens entre 18 e 24 anos ouvidos e insônia em 45% deles. Além disso, 58% disseram estar tristes.
É evidente que a saúde mental e emocional dos nossos jovens piorou durante a pandemia. As desigualdades aumentaram, as dificuldades vieram e eles tiveram de se adaptar – ou ao menos tentar. Muitos meninos e meninas ficaram órfãos de mãe, pai ou responsável (estima-se que sejam 130 mil no Brasil). Em meio a tudo isso, o atendimento médico e psicológico também ficou restrito. Faltou ajuda até mesmo para lidar com o luto. Alguns especialistas acreditam que muitos jovens não voltarão a fazer o que faziam antes.
São quase dois anos de distanciamento e isolamento social para todos nós, mas para os mais novos isso veio com o peso de estar numa idade recheada de descobertas e escolhas. Fora o estresse que é a ameaça à própria vida e a de quem se ama causado pelo coronavírus. Muitas políticas públicas têm sido implantadas para dar apoio aos jovens, mas ainda falta muito a ser feito.
Nós, parlamentares, eleitos por esses meninos e meninas e suas famílias, temos a obrigação de ouvir o que eles têm a dizer, saber o que estão vivendo, e oferecer soluções, por meio de projetos, emendas, intercedendo juntos à esfera federal, enfim… apresentar caminhos palpáveis para que eles possam sim voltar a fazer o que faziam antes. Só não podemos ficar parados.
O jovem de 17 anos lá do começo desse artigo também nos disse o que espera após essa crise sanitária: “A vida pós-pandemia será diferente, para melhor. Eu acredito que surgiu um instinto de união ainda maior entre as pessoas, e que elas irão valorizar e ajudar mais umas às outras! ”
Nós também estamos aqui para ajudar!
*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo Republicanos SP e presidente da Comissão de Finanças e Orçamento da Alesp