Todos contra o racismo | Gilmaci Santos


Neste domingo ficamos horrorizados ao ver o jogador de futebol Moussa Marega, do Porto, sendo alvo de ofensas racistas enquanto jogava o Campeonato Português. Até quando veremos cenas absurdas como essa? Esse, infelizmente, não é um caso isolado, diversos jogadores brasileiros já sofreram esse tipo de ataque no Brasil e fora do país.
Nos últimos anos, o famoso craque Pelé tem falado mais sobre as situações que ele mesmo enfrentou durante a sua carreira. No livro “Pelé: estrela negra em campos verdes”, biografia escrita por Angélica Basthi, um dos temas abordados é a relação do jogador com a questão racial. De lá para cá muita coisa mudou e esse se tornou um assunto muito debatido no esporte, mas o racismo continua acontecendo dentro e fora dos campos.
Em 2014, o ex-jogador Tinga, que jogou pelo Cruzeiro, foi vítima de racismo durante um jogo da Libertadores pela Copa Libertadores da América. Na partida, a torcida peruana desrespeitou o jogador ao imitar sons de macaco toda vez em que ele tocava na bola. O famoso jogador Daniel Alves, atualmente no São Paulo, também passou por uma situação semelhante durante uma partida entre Barcelona e o Villarreal, em 2014. Na época, um torcedor jogou uma banana no gramado, mas o jogador foi irônico com a situação desrespeitosa e respondeu comendo a fruta. Na ocasião Daniel disse que “temos que rir dessa gente atrasada”.
Em cada um desses episódios fica claro que o racismo é ainda uma realidade muito próxima de nós. A reação dos jogadores vítimas de racismo é algo que também costuma ser questionada nas redes sociais, como se o verdadeiro culpado fosse a vítima. No caso mais recente envolvendo o jogador Moussa Marega, o atacante francês naturalizado malinês abandonou o campo depois de marcar um gol pelo Porto, revoltado com as manifestações preconceituosas de torcedores do time rival, o Vitória de Guimarães, no último domingo, 16/02. Curiosamente, esse foi o seu time entre 2016 e 2017, ocasião em que Moussa atuou como jogador emprestado.
Em nota oficial divulgada no domingo, o Vitória de Guimarães anunciou que vai averiguar o ocorrido, mas Miguel Pinto Lisboa, presidente do clube, já se antecipou dizendo que não percebeu a situação, mas, sim, “uma atitude provocatória de um atleta”. O presidente do clube só esqueceu de verificar o que fez o atleta ficar tão irritado. Espero que o caso seja investigado e os torcedores envolvidos, punidos.
Situações como essas sempre trazem luz ao tema, mas são apenas uma parte de um problema ainda maior ou como diriam por aí, essa é apenas a “ponta do iceberg”. É importante discutir o tema, mas não podemos esquecer que centenas de anônimos sofrem com o racismo diariamente, mas não conhecem os seus direitos ou não têm condições de se fazer ouvir.
No Brasil existem leis e mecanismos de combate ao racismo, a Lei 7.716, de 1989, define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, o texto prevê punição de até 5 anos de prisão aos infratores. Aqui na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo existe também o SOS Racismo, serviço que recebe denúncias de preconceito e discriminação, e presta apoio psicológico e jurídico às vítimas. As denúncias podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, pelo número 0800 77 33 886, ou através do e-mail sosracismo@al.sp.gov.br. O endereço fica na Av. Pedro Álvares Cabral, 201, subsolo – sala 3, no Ibirapuera.
O racismo continua sendo um desafio para o Brasil e para o mundo; ainda que mais de um século tenha se passado desde a abolição da escravatura e que muitos avanços tenham acontecido, a sociedade ainda vive retrocessos que só poderão ser vencidos quando entendermos que todos nós precisamos fazer parte da luta contra essa violação da dignidade humana chamada racismo.
Gilmaci Santos é deputado estadual pelo Republicanos de São Paulo e 1º vice-presidente da Alesp.