Eleição 2014: a busca da harmonia social

ROBERTO_RAMALHO_300A eleição terminou. Como diz o professor Marco Aurélio Nogueira, com certeza essa não foi a primeira eleição que se valeu de ofensas e jogo sujo, mas talvez tenha sido a mais virulenta. Os resultados demonstram que o Brasil está profundamente dividido.
Analisando essa eleição presidencial o professor Gaudêncio Torquato diz que isso “poderia até ser um sinal de avanço político, pelo entendimento de que o escopo democrático se inspira na disputa entre contrários, se chegássemos ao final do pleito com o peito estufado de animação cívica, e não, com arsenais cheios de ódio e desejo de vingança”.
Percebemos a utilização da pedagogia da separação nessa campanha quando ouvimos de algumas lideranças políticas a utilização de expressões como: “nós e eles”, “ricos e pobres”, “nordeste e sudeste”. Evidente que isso cria e amplia animosidade entre grupos e expande atritos na esfera social.Em 2014, com forte apoio das redes sociais, a campanha negativa chamou a atenção também pela intensidade e reverberação instantânea dos boatos, ataques e difamações, dificultando que o debate eleitoral ganhasse dignidade política.
A agressividade da linguagem utilizada na campanha é outra triste constatação. A discussão e o combate às ideias cedeu lugar ao confronto pessoal e ultrapassou os limites do respeito.Gostaríamos que o debate presidencial fosse o espaço para apresentação e discussão de ideias e propostas para o futuro. Não foi isso que aconteceu, mas isso agora é passado. Claro que devemos analisar e nos perguntar como isso aconteceu, ou como diz o professor Marco Aurélio “… como permitimos que isso acontecesse”, compartilhando a responsabilidade com toda sociedade, ou seja, com todos nós.
Como sempre digo, devemos incentivar os jovens – principalmente – a participar da política – como missão – e essa campanha eleitoral não serviu de exemplo, mas não vamos perder a esperança. Pelo contrário, isso só nos motiva a trabalhar ainda mais para persuadir os jovens e a sociedade em geral a participarem mais ativamente da política democrática e a troca de ideias.
Ninguém discorda que a política precisa mudar, mas vamos fazer isso de forma civilizada, apaziguando e pacificando os espíritos e buscando a harmonia social e o convívio mais fraterno, inclusive para que seja possível a governança democrática e com reais benefícios para a sociedade.
Devemos lembrar que integramos a mesma pátria e aos vitoriosos caberá a árdua tarefa de trabalhar e evitar a animosidade. E, como diz o professor Gaudêncio Torquato, “aos derrotados se impõe o dever democrático de aceitar os resultados, e da mesma forma que os vitoriosos, fechar o dicionário separatista”.
Desde as manifestações de junho de 2013, a população já deu sinais que deseja e pretende participar mais ativamente do processo político e agora devemos todos, políticos e cidadãos, vencedores e perdedores, ampliar as formas de fiscalização e controle das ações dos governantes, também como forma de tirar a política desse fosso de degradação moral. Não será uma tarefa fácil, mas não será impossível.
 
Roberto Ramalho
Ex-prefeito de Itapetininga