Depressão: um mal após violência doméstica | Artigo | Carlinda Tinôco

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Depressão, quem pode tocá-la? Quem pode fazer existir alguém profundamente dolorido e dizer “faz isso”, “faz aquilo que vai passar”…
Assim vivem muitas mulheres em conflitos, faltando respiração, coração descompensado, agonia profunda e pensamentos sem controle.
A vontade muitas vezes é de morrer, acabar com a própria vida. E assim pensam que terminará o sofrimento da alma e do corpo cansado de lutar por alguém que não lhe valoriza.
Parece que jamais alcançará o descanso, a paz, pois as ideias ficam confusas e a dor intocável se repete continuamente sem trégua, sensação de loucura.
O medo toma conta da alma, pois ficam sem controle da  própria vida. Buscam receitas médicas sem resultados, palavras de ânimo todos os dias, remédios para dormir sem alcançar o descanso. Nada traz resultado.
Se sente sozinha e vazia.
Na depressão tudo é sem sentido: as más experiências, culpa, a falta de coragem para tomar uma decisão. Muitas vezes se faz repetir o círculo vicioso. A pessoa se mantém no sofrimento, perdida sentimentalmente .
A depressão após violência doméstica também se caracteriza por tristeza profunda e desânimo excessivo, onde a pessoa se abastece de ira, mágoa e sede de vingança, pois os pensamentos isolam a esperança de que “se não foi feliz comigo, com ninguém mais vai ser”.
A vítima deixa a sua vida para cuidar do outro que lhe machucou, ficando presa a um sentimento enganoso.
Vale lembrar que o olhar muda. Quando se enxerga, sente vergonha , pois os meios tradicionais não trazem mais resposta, e quando começam olhar para si  se perguntam: será que tenho chance de passar por cima, e sair do tormento, usando a razão e não mais a emoção?
A sensação persistente de tristeza ou perda de identidade é uma forma que caracteriza a depressão após violência, mexe os sintomas físicos e comportamentais. Favorece a introversão, o isolamento afetivo, muita  ansiedade, entre outros.
Isto leva as mulheres a fazerem escolhas amorosas equivocadas, repetindo os riscos de tentar resolver conflitos por impulsos agressivos, ficando prisioneiras.
Sintomas como a falta de sono, apetite, energia negativa, baixa autoestima exigem uma reação para mudar, e não mais prejudicar o dia a dia.
Aos poucos vai-se entendendo a dor da alma, e nutrindo ela com a realidade que não merece mais volta.
Se reconhece um grande erro: colocar uma pessoa acima de tudo e de todos.
Quando profundamente a alma se encontra sem resposta, meu conselho importante é buscar forças em Deus, que nos liberta  das algemas que aprisionavam, é o começo de lutar por um fim, e assim sair das grades invisíveis.
A alma mal cuidada forma uma ferida intocável, que para cicatrizar é preciso acreditar também em si mesma.
Aprenda a se valorizar,  não ser escrava das circunstâncias, pois curando a Alma, interiormente vai ser livre do relacionamento inconveniente e da a violência contra a mulher que causa a depressão, quando ela está em um relacionamento excessivamente abusivo.

*Carlinda Tinôco é vice-coordenadora do PRB Mulher em São Paulo;

durante sete anos atuou como coordenadora nacional do RAABE;

projeto criado para valorizar e dar assistência às mulheres vítimas de

violência doméstica e abuso; é escritora com três livros publicados;

esposa, mãe e dedicada às causas sociais